Pagamentos com pix no open finance crescem; entenda como funciona o ITP

Publicado originalmente por https://valorinveste.globo.com em 26 de outubro 2023

Pagamentos com pix no open finance crescem; entenda como funciona o ITP

Dados atualizados do Banco Central apontam que mais de R$ 434 milhões foram transacionados em pagamentos entre janeiro e setembro realizados a partir da modalidade da iniciação de transação de pagamento (ITP).

O valor já é mais do que três vezes de tudo que foi transacionado em 2022, quando a função foi disponibilizada pelo Banco Central. Apesar da evolução, o uso ainda é considerado tímido, ainda mais se a comparação for em relação ao pix. Contudo, esse cenário deve mudar em breve. A avaliação é que no primeiro trimestre de 2024 a funcionalidade ganhe tração. Entenda o que isso vai significar.

O que é a iniciação de transação de pagamento (ITP) e o que muda na minha vida?

Quem costuma fazer compras on-line já deve ter notado que ao finalizar a escolha do produto, muitas áreas de pagamentos das lojas permitem, em geral, gerar um boleto, digitar informações do cartão de crédito ou acessar um QR code para gerar um link – que deve ser copiado e colado no app do banco – para que o pagamento via pix seja realizado. Com a funcionalidade da iniciação de pagamento, são menos etapas e há mais automatização.

De forma resumida, o Iniciador de Transação de Pagamento (ITP) é uma interface que, como o próprio nome diz, inicia uma transação e faz com que o recurso do cliente saia da conta dele e caia diretamente na conta do recebedor (que pode ser uma instituição do sistema financeiro ou uma empresa que vende on-line). A transação acontece sem sair do ambiente da instituição original, com menor manuseio de dados e logins de autenticação entre apps.

“É uma dinâmica que se torna mais confortável e amigável para o consumidor, pois evita ficar migrando de aplicativo, já que dentro da plataforma comercial está embarcada toda a tecnologia financeira, o chamado embedded finance”, resume Leandro Vilain, sócio de serviços financeiros da Oliver Wyman na América Latina.

ITP e open finance

Prevista na Agenda BC#, criada pelo Banco Central para modernizar, digitalizar e acirrar a competição entre os serviços financeiros, a iniciação de pagamentos é a integração entre clientes, empresas recebedoras de pagamento e bancos. Tal integração só ocorre por conta do serviço realizado pelas empresas iniciadoras de pagamentos.

Hoje são 25 instituições, entre bancos, como Itaú, Santander e Nubank, fintechs como Mercado Pago e PicPay, startups como Iniciador e Lina, e sistemas cooperativos, como Sicoob e Sicredi. Em breve, mais nomes devem se juntar à lista, já que, ao menos, outras 25 empresas aguardam o aval do Banco Central.

Ao mesmo tempo que a funcionalidade passa por um processo de maturidade, há desafios robustos no caminho.

Gustavo Bresler, diretor de operações da startup Iniciador, especializada em oferecer a tecnologia de iniciação de pagamento, explica que, embora haja padrões previstos pelo open finance, cada banco faz a implantação dentro de casa. E, às vezes, há aspectos ligeiramente diferentes que aumentam a fricção. “O nosso papel nesse caso é fazer com que todas essas integrações aconteçam de maneira rápida e segura e que não haja pontos ‘de quebra’ que interfiram no serviço e na experiência dos clientes”, complementa.

Vilain enfatiza, ainda, que a agenda de desenvolvimento do open finance colocou o Brasil na vanguarda do ecossistema financeiro aberto, mas isso implica em equipes trabalhando com muitas entregas para fazer e em um ambiente novo. Ainda assim, o especialista da Oliver Wyman avalia que a chegada de novos recursos no pix em 2024 – como o pix automático, processo semelhante ao débito automático em conta corrente – deve acelerar a inclusão da funcionalidade da iniciação de transação de pagamento no e-commerce. A razão é simples: os lojistas, especialmente as maiores redes, estão de olho em possibilitar o máximo de meios de pagamentos que o cliente gosta de usar.

Já Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) pondera que a maior confiança dos clientes no open finance vai ajudar a sustentar o crescimento do ITP no próximo ano.

O open finance permite que os clientes compartilhem, pelo prazo máximo de 12 meses, determinados dados de sua vida financeira entre diferentes bancos e instituições, mesmo que não seja cliente delas. Com isso, na teoria, ofertas melhores e mais personalizadas de produtos e serviços bancários e de investimentos podem ser feitas aos usuários. Do ponto de vista técnico, o open finance trouxe uma padronização para que essa troca de informações ocorra.

“Eu diria que o iniciador se sustenta mais por causa do open finance, que é onde as transações acontecem de maneira melhor, do que por causa do pix. Estamos vendo uma tendência de crescimento sustentável no uso do ITP e nos próximos meses a automação de processos será ainda mais efetiva”, analisou durante o evento de inovação Rio Innovation Week.

A aposta do crescimento do ITP atrelado ao conjunto do open finance também é compartilhada pela Pluggy, empresa oferece produtos e serviços de inteligência a partir de dados compartilhados.

“O open finance dá a oportunidade de se criar uma inteligência em cima dos dados dos extratos, produtos financeiros e contratos. Temos a experiência de interpretar os dados que passam pelo open finance. Com o ITP, juntamos a inteligência à maior facilidade de pagamentos. Ao fazer isso, estamos falando de muitos novos casos de usos da tecnologia para o mercado”, detalha Bruno Loiola, cofundador da Pluggy.

Como funciona o ITP?

Como explica o próprio Banco Central, o iniciador não faz a operação financeira por si só. Ele só dá o “pontapé inicial” da transação de pagamento fora do ambiente bancário. Por isso, não pode, nem precisa ter acesso aos fundos movimentados pelo cliente. O que é necessário, é claro, é o consentimento do usuário via open finance (a modalidade de pagamento integra a terceira fase do open finance).

Por enquanto, a única forma de pagar usando o ITP é via pix, mas o BC prevê outros métodos, como TED, boleto, débito em conta e cartões. Com isso, pagamentos em lotes com “apenas um click” poderão ser feitos por empresas que precisam pagar fornecedores, o que deve agilizar processos das tesourarias. Apesar de prometer tornar mais ágil as experiências financeiras, ainda é difícil exemplificar como funciona uma iniciação de pagamentos, tanto para o usuário final quanto para o mercado que pode integrar o serviço como opção de pagamento.

Na tentativa de tornar mais palpável como tudo isso funciona, uma página exemplifica a iniciação de pagamento na prática. Criada pela fintech Iniciador, o recurso permite testar a transação de pagamento via pix. Porém, ao invés de pagar por algo, o usuário faz uma doação para organizações da sociedade civil escolhidas pela startup. O valor a ser doado é aprovado em poucos segundos.